Bertim baixista, isssshhh
Ótimo, me taquei pro centro pra trocar as benditas chaves. Primeiro dia, o chaveiro não foi, é isso mesmo, o cara resolveu tirar uma folga em plena segunda-feira. Eita vidão, hein? Segundo dia, nesse dia tive mais sorte, o maldito estava lá. Pensei em mandar um porra de leve mas como o serviço era de graça apenas implorei para abrir o cadeado que tinha em mãos.
O que mais tem pelo centro são lojas de instrumentos musicais. Fiquei olhando as mesmas de longe enquanto o chaveiro se divertia com as cópias bunda-secas que ele mesmo fez. Não sei se já falei pra vocês mas a galera do vinhais resolveu montar uma banda "séria" e fui convidado pra tocar na mesma, a Arsenall.
Inicialmente, eu ficaria na guitarra, mas como não aguento mais distorções no meu ouvido(leia-se: não sei solar, nem tenho saco para aprender), resolvi pegar o cargo de baixista. Tudo estaria às mil maravilhas se o baixista(no caso eu) tivesse um baixo. Para tentar me contentar, peguei um violão emprestado e fingi que era um senhor baixo.
A brincadeira não durou uns 3 dias. Já estava louquinho querendo comprar um instrumento novo! Só que eu me conheço e sei que já já iria enjoar dele, coisa de 2 semanas pra isso acontecer. Mas como sou doido e empolgado, resolvi que ia comprar essa porra, e a decisão foi enquanto o chaveiro consertava as chaves. Já mencionei que vivo sem dinheiro e não tenho cartão de crédito, né?
Assim que as chaves ficaram boas, fui quase correndo em direção às lojas! Nem vi preço nem nada, fui logo perguntando se eles parcelavam no cheque(as maravilhas de ser universitário). A resposta foi: "até de 10 vezes!". Caraca, fiquei muito feliz, só não beijei o vendedor porque não gosto de barba nem de pintos alheios.
Fui em direção ao banco como um guri de 10 anos em direção à um fliperama com fichas por R$0,20. Andei 7 quarteirões, tirei os cheques, voltei 7 quarteirões. Tudo estava muito fácil, fácil até demais. Ao consultar os cheques, a dona pergunta minha profissão e renda. Não tenho renda, esse ponto foi crucial, era impossível eu passar no cadastro sendo desempregado, vagabundo e feio. Saí da loja como um cachorrinho depois de levar uma bisca com o rabo entre as pernas.
Mas minha sagacidade me levou à próxima loja, e dessa vez não vacilei. Assim que a mulher perguntou meu emprego, falei que era autônomo. A resposta perfeita, eu trabalhava mas não tinha como provar, existe algo mais lindo que isso? Ainda dei uns migués, falei que revendia produtos importados a preços módicos sem nota fiscal, e que tinha uma renda em torno de 300 reais(estava de chinelos, não podia mentir além disso).
Papo vem, papo vai e pronto! Nasceu mais um baixista no mundo! Pagar em 10 prestações sem entrada e com direito à água gelada é muito legal. Ah, pequeno detalhe, meus pais não sabiam de nada sobre a minha aquisição. Quando minha mãe chegou, avisei que o baixo era meu. A reação dela? Normal, meu nome que vai ficar sujo mesmo...
Só espero que minha empolgação dure mais de 3 semanas dessa vez.