O meu vício pelos card games

Já não é novidade para ninguém que sou viciado em card games. Mas tudo isso começou em torno dos meus 14 pra 15 anos. O esquema era sempre o mesmo: guardar o dinheiro do lanche para comprar os boosters(aqueles saquinhos com cartas). Na epóca, era até barato, 3 reais apenas. Dava pra passar fome durante dois dias para comprar o booster no terceiro.

Tenham em mente que todos jogadores faziam sempre a mesma coisa: abriam o booster de Magic e imediatamente cheiravam as cartas! Sim, nós não somos doidos, fazendo uma comparação horrível, é que nem cheiro de carro novo, só existe um! Então, enquanto hoje em dia, guris de 15 anos só querem arranjar print screen de mulheres peladas pela webcam; no meu tempo de guri, a moda era ir pro shopping, guardar todo o dinheiro que foi dado para lanchar/jogar fliperama e torrar com boosters!

Lembro bem do jogo que deixava de jogar para não ficar liso, um de disputa de carros, o Cruising' USA! Para ser sincero, percebo hoje em dia, que não jogar aquilo foi uma das melhores coisas que já fiz. O fim do sábado era emocionante, esperava dar 20:50 e saia correndo em direção à Livraria Nobel!!

Por que eu esperava dar quase 21 horas?? Nunca se sabe se eu precisaria lanchar de emergência ou comprar camisinhas. Só sei, que no final, eu sempre comprava o booster mesmo. Já no colégio era algo bem mais difícil, afinal, ficar das 7 até às 12:00 sem comer, era algo quase etiópico! Pensando com meus botões aqui... será que é por isso que hoje eu sou só pele e osso? Deve ter algo haver...

Após alguns anos guardando suas cartas em caixas mofentas, chega uma hora que você decide comprar um fichário. Como aqui em São Luis, tudo é mais difícil, imaginem a 10 anos atrás que nem loja especializada não existia de card games. O jeito era improvisar um fichário, peguei um bem antigo que achei pelo serviço do meu pai e coloquei na capa um mulher pelada. Não era tão difícil encontrar, visto que, eu tinha uma assinatura da Playboy na epóca que custava 5 reais cada revista(chorem, eu deixo). Simplesmente uma combinação perfeita, Magic e seios, que mais um guri pilantra de 15 anos precisa?

Anna Nicole Smith, juro que passei 45 minutos buscando a foto do fichário mas não achei. Na foto, seu ex-marido, um milionário que já morreu e deixou uma gorda herança para ela

Até então, eu imaginava que os únicos jogadores de Magic de São Luis, fosse eu, meu primo e o Fivio. Toda essa concepção mudou quando abri uma revista sobre RPG e encontrei o anúncio de alguém querendo vender suas cartas daqui de região. Liguei de imediato e através dele conheci a outra penca de jogadores. E fiquei sabendo que a gurizada se reunia aos sábados para jogar campeonatos!

Putz, campeonatos, aqui?? Foi difícil de acreditar, mas assim, meus sábados começaram a ser cobertos de emoção. Nada melhor que me tacar para uma lanchonete e passar a tarde jogando/gastando dinheiro. Eu nunca ganhava nada, só fazia gastar o dinheiro da inscrição e perder na segunda rodada. E assim foram as maiorias dos sábados, mas teve uma vez que por algum motivo a galera resolveu se reunir no domingo também.

Lá estavámos comendo biscoito recheado, trocando cartas, babando meu fichário quando uns 5 marginaizinhos surgiram do nada. O pânico tomou conta de todos! Eles queriam levar nossos biscoitos!!! Cedemos com um pouco de receio, afinal, era o lanchinho da tarde. Mas tudo piorou quando eles quiseram tomar as cartas!! Meu amigo quase chorou quando viu um dos meliantes pegando uma carta bem cara e querendo levar consigo.

Eu, como um bom filha-da-puta, fiquei só olhando, afinal as cartas não eram minhas mesmo! O povo começou a falar que eles não precisariam das cartas, e realmente, a coisa mais útil que eles fariam com as cartas seria limpar as bundas deles após comer nossos biscoitinhos! O clima foi ficando tenso, até que aos poucos eles desistiram.

De imediato alguém ligou para a polícia e informou que alguns marginais, sem nenhum tipo de arma e em menor número, tinham roubado nossos biscoitos recheados! Por algum motivo, nenhum policial apareceu para nos ajudar.