sábado, março 18, 2006

PhD de cú é rôla

Falta de imaginação, adoro quando isso me acontece, porque eu fico pensando em algo para escrever, penso, penso e penso. Penso tanto que no fim surge algo aqui, não muito bom, mas que puxa um sorrisinho maroto de alguns poucos leitores.

As duas últimas semanas foram um verdadeiro tormento na minha vida. Deixe-me apresentar a vocês o universo que ronda a minha vida. O meu orientador do estágio é PhD em hematologia, ou seja, ele é um crânio e sabe tudo e mais um pouco sobre sangue. Sim, ele sabe detectar qualquer tipo de leucemia pelas células de um simples esfregaço sanguíneo. Se vacilar ele é capaz de me furar e falar quanto eu tenho de hemoglobina a olho nu!

E tive a (in)felicidade de estar estes últimos 15 dias com ele. O cara achava que eu era escravo dele, tinha que ir pro hospital pela manhã e à tarde para a faculdade pra treinar mais ainda. E todos sabem que, para todo bom brasileiro criado e nascido próximo da Bahia, essa é uma tarefa impossível!! Ficar das 8 às 13 horas e ainda ir pra Faculdade à tarde é quase uma blasfêmia. Quando ele me falou isso, tentei ao máximo utilizar meu charme e poder de persuasão, mas sem sucesso. Só restou mesmo, apelar e dizer que tinha que resolver coisas da monografia pela Terça e pela Sexta, e implorar que ele me liberasse nesses dias.

Sim, ele me liberou.

Tudo seria mais fácil se meu orientador fosse um pouco menos bruto. Como vocês já devem imaginar, pelo simples fato dele ser PhD, ele acha que assim como ele, os alunos dele também devem saber tudo. Sintam o drama neste exemplo: o microscópio do hospital é uma belezura, ele possui oculares tanto pro professor quanto pro aluno. O que o professor vê, o aluno também olha de camarote. Sabendo disso, o meu professor avistou uma célula um tanto estranha. Na verdade, a célula não era tão estranha, se eu fosse um pouco mais assíduo às aulas, teria, talvez, levado menos esculhambação.

Ele, sem medo de ser feliz, chega e pergunta para mim: "Que célula é essa?". Pronto, a desgraça estava feita! E agora, que diabos de célula era aquela!! Que dúvida cruel, não sabia se era um linfócito ou um monócito!! Mesmo vendo células todos os dias, uma pequena diferença de coloração pode modificar a célula o suficiente, de modo que, qualquer aluno universitário, com fome e com vontade de querer acessar a internet, se engane em dar um laudo.

Pensando com meus botões e com o pouco de conhecimento que possuo, chutei na lata que era um linfócito.


Guardem bem na memória, este é um linfócito bem corado

"Linfócito??!! Isso aqui é um monócito, rapa!! Não, não, assim não dá!! Onde já se viu isso ser um linfócito!! Olha essa cromatina!!"


E este é um monócito, parece sim, vai...

Porra!! Como se não bastasse ter errado, o cara ainda fala em alto e bom som(deu até pra ouvir um enfermo reclamar dois andares acima)! Sabe quando você leva uma bronca do pai e o que resta pra fazer é sentar e botar os rabos entre as pernas? Assim que eu estava me sentindo! Aí vocês pensam: "Po, Bertim, o cara te fala isso uma vez e você fica todo todo aí..."

Ahhhh, quem dera se fosse a primeira vez!! Quem sabe foi a primeira vez naquele dia!! Bicho, que se esfaqueie com o primeiro punhal gótico, quem gosta de levar bronca! Tem uma hora que não dá pra aguentar!! Sorte do professor que não sou um cara esquentado, ainda mais, quando estou errado. Outro dia ele veio falando que quando era estagiário, chegava 6 da manhã e saia só pelas 22 horas!!

Olhei bem no fundo dos olhos dele e pensei com fogo nos olhos:

"Desgraçado, eu trabalho pra viver e não vivo pra trabalhar!"

Rapaz, ele ficou quietinho!! Imagina se eu tivesse falado mesmo!!

Para completar, pela tarde, fui ver os lances da monografia, lá pelas 16 horas. Uma viagem de 40 minutos pro centro!! Taí uma coisa que não consegui conciliar até hoje: o meu sono. Passar mais de 10 horas seguidas sem tirar nenhum cochilinho no sofá é um dos maiores sofrimentos que sinto. Falando sério, eu sei que sou preguiçoso, mas passar mais de 10 horas sem cochilar me deixa incapacitado de qualquer atividade física e/ou sexual.

E o único local propício para o sono seria o ônibus, antes que me perguntem, sim, eu já cochilei no microscópio e acho que uma vez perceberam. Voltando ao assunto, apenas fechei um pouco os olhos e quase adentrei o mundo dos sonhos. O pior de dormir num ônibus é porque toda vez que ele freia ou dá uma acelerada, eu acabo dando uma pescada pra frente, e por instinto, todos notam. Dessa vez eu cochilei e só fui despertar em frente à uma parada de ônibus lotada.

Com o canto do meu olho percebi que tinha um povo rindo. E com o pouco de vergonha que ainda tinha no meu sangue, devo ter ficado vermelho e como uma maneira de evitar uma cena mais constrangedora ainda, apenas fiquei olhando pra frente como se nada tivesse acontecido. E a pergunta que não quer calar: vocês já clicaram no banner hoje?