Uma vez viciado...
Desde cedo eu fui banido de ter vídeo-games, somente podendo matar meu vício em locadoras do gueto. Locadoras fétidas em que se usava uma prática de escambo muito conhecida na época, a "garapa".
"Garapar" era utilizado com maestria em várias ocasiões. Por exemplo, imaginem o ano de 1997. No auge dos meus 14 anos, me sento numa locadora fétida qualquer e compro uma hora de Super Nintendo por R$ 3,00. Peço para o dono da locadora (geralmente o dono da locadora era visto como o ser supremo da raça humana, ter todos aqueles vídeo-games era sinônimo de poder entre guris de 14 anos) colocar uma fita de futebol e começo a jogar.
No exato momento em que o juiz apita o ínicio do primeiro tempo, surge das trevas um menino, geralmente feio e sem dentes. Ao observar o espaço vago do meu lado, ele se senta e faz aquela cara de cachorro pidão. Nessa hora, só possuo duas opções, ignorar o menino feio e desdentado OUUU oferecer o controle do 2° player para ele se divertir junto comigo.
Caso eu escolha a segunda opção, o menino efetuou com sucesso a técnica da "garapa", que significa, jogar sem pagar. Geralmente os melhores jogadores das locadoras são os garapeiros, e também são os que possuem mais fama. Oferecer um controle a um garapeiro deve ser feito com muita cautela, pois, ao oferecer o joystick, terei criado um laço para a vida toda com ele.
Sempre, sem exceções, sempre que ele me observar jogando sozinho, ele se sentirá no direito de pegar o segundo joystick. A relação de comensalismo é óbvia. Efetuar a manobra da garapa requer muita perícia e anos de prática a fio. Conheci garapeiros que jogavam a tarde toda sem pagar um mísero centavo!
E mais, um garapeiro nunca será seu amigo. Você não sairá com ele ao parquinho, nem irá jogar bolinha de gude com ele e muito menos jogará futebol de botão! Ele existe, única e exclusivamente, na sua vida para sugar!
Voltando agora ao ano de 2007. Como vocês puderam perceber nunca tive o luxo de ter vídeo-games quando guri pois o risco de virar um vagabundo quando crescer era iminente!! Por esta razão, vivo comprando aparelhos eletrônicos. Aparelhos eletrônicos que faziam sucesso quando eu era menino e que depois de adulto só duram 1 mês de diversão.
Foi assim com o Playstation 1, lembram? Comprei, joguei 1 mês e ele ficou jogado às traças. Fiz uma boa ação e dei o mesmo para o filho da empregada. Não quero que ele se torne um garapeiro e coloque a culpa na mãe.
A minha aquisição mais recente foi um vídeo-game mais poderoso! A interatividade dele é tão fora da realidade que até minha mãe está jogando nele!